Trabalho em uma instituição pública de caráter privado. Seria muito
interessante se bastasse apenas dizer isto para que todos entendessem do
que se trata, mas por via das dúvidas, devo explicar melhor por
entender que muitos não o saberão. Trata-se de uma empresa pública onde
os contratos de trabalho por ela estabelecidos são regidos pela
Consolidação das Leis Trabalhistas; a mesma que estabelece as regras de
uma empresa privada. Logo não sou funcionário público como muitos
pensam, pois para sê-lo deveria trabalhar numa empresa pública sob
Regime Jurídico Único dos Servidores Públicos. E não é o caso. Explicar,
explicar e explicar... eis a questão!
Se pareço pedante, o faço porque no dia a dia consigo perceber o quanto
uma grande parcela da população se condicionou à ignorância, eis a razão
de explicar minuciosamente. Não desmerecendo a inteligência do leitor
deste artigo, mas muito porque me sinto na obrigação de explicar. Os
parágrafos seguintes justificarão minhas colocações.
Quem costuma ler as minhas idéias sabe que sempre insisto em uma
situação, e mais uma vez reafirmo: criem o hábito da leitura, ela é
fundamental na sua vida! Situações inusitadas como a que vou citar são
consequências da ausência completa do hábito de ler. Eu estava na
rodoviária de Belém comprando uma passagem para Capanema quando percebi
uma fila formar-se no guichê ao lado, e todos que por alí passaram sabem
que as sinalizações ali são ótimas e não deixam praticamente nenhuma
dúvida sobre onde comprar sua passagem para o destino que se deseja.
A fila contuava a formar-se atraz de uma senhora aparentando seus 38
anos que desejava seguir para o interior do Pará também. Os demais, uns
cinco, que se agruparam à ela aguardavam atendimento quando um aparente
atendente entrou no guichê e ela já irritada dirigiu-se à ele e
reclamou: "Vai começar a atender ou não? Tô aqui ha horas e ninguém
começa a atender!" - Acredito que não faltou vontade do reclamado
perguntar a ela se ela não sabia ler, ele resumiu-se em dizer que ela
deveria dirigir-se ao guichê ao lado, pois além daquele estar desativado
havia um aviso em letras garrafais sobre o redirecionamento dos
clientes para o guichê ao lado. Ela mais irritada ainda retrucou: E só
agora me avisam?!
Eu poderia enumerar várias outras situações, mas deixo para outra
oportunidade, esta me bastou para colocá-los diante de uma situação
vexatória para uma grande parcela da população paraense, um reflexo de
uma educação mal cinduzida, que segundo o Ministério da Educação vem
melhorando a galopes de um cavalo de corrida... Para uma educação que
tenta justificar as inúmeras modificações no currículo escolar com um
discurso de que o cidadão deve estar preparado para a vida; estamos
produzindo educação de qualidade mesmo?
Não me refiro à situações pontuais de sucesso, mas sim à grande parcela
que apenas precisa de um diploma para justificar suas vidas
profissionais, e que na verdade não deram a verdadeira importância para o
que deveria ser realmente importânte, o valor do saber e o poder de
trasnformação que ele possui. Valores que são despertados no seio
familiar e que se perderam por desobrigação com a família justificados
por um discurso medíocre de trasnformação da sociedade.
Wagner Cunha
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